5 Causas de Dor na Coluna e Como Tratá-las
5 Causas Comuns de Dor na Coluna e Como Tratá-las: Um Guia Completo
A dor na coluna afeta cerca de 80% dos brasileiros em algum momento da vida e representa uma das principais causas de consultas médicas e afastamentos do trabalho no país. Como neurocirurgião especialista em coluna vertebral e tratamento da dor, atendo diariamente pacientes em busca de diagnóstico preciso e alívio efetivo para diferentes tipos de dores nas costas. Neste artigo, apresentarei as cinco causas mais comuns de dor na coluna e as abordagens terapêuticas modernas baseadas em evidências científicas para cada condição.
1. Dor Discogênica: Quando o Disco Intervertebral É a Fonte da Dor
A dor discogênica é uma causa frequente de dor lombar axial (localizada na própria coluna) que se origina do próprio disco intervertebral, sem necessariamente haver compressão de raízes nervosas. Diferente da hérnia de disco com radiculopatia, a dor discogênica ocorre devido à degeneração do disco, desenvolvimento de microfissuras no anel fibroso ou alterações bioquímicas que sensibilizam as terminações nervosas presentes na parte externa do disco.
Sintomas característicos da dor discogênica:
- Dor lombar localizada e profunda, geralmente na linha média da coluna
- Agravamento significativo ao permanecer sentado por períodos prolongados
- Intensificação da dor ao se inclinar para frente ou ao realizar movimentos de rotação
- Possível irradiação para membros
- Dificuldade para encontrar posições confortáveis para dormir
Abordagens terapêuticas modernas para a dor discogênica:
- Tratamento conservador inicial: Programa estruturado de fisioterapia focada em exercícios de estabilização central, técnicas específicas de controle motor e estimulação da propriocepção
- Abordagem farmacológica: Anti-inflamatórios não esteroidais em fases agudas, analgésicos, opioides fracos e, em casos selecionados, medicações neuromoduladoras para controle da dor neuropática
- Terapias complementares: Acupuntura, dry needling e técnicas de liberação miofascial para alívio da tensão muscular secundária
- Procedimentos minimamente invasivos: Bloqueio peridural com hidrodissecção transforaminal peridiscal, procedimentos intradiscais como discectomia percutânea, medicina regenerativa com injeções intradiscais de aspirado de medula óssea ou plasma rico em plaquetas
- Reabilitação multidisciplinar: Combinando exercícios terapêuticos, educação em neurociência da dor e abordagem psicológica para manejo da dor crônica
2. Dor de Origem Sacroilíaca: Uma Causa Frequentemente Negligenciada
A articulação sacroilíaca (SI) conecta o sacro (parte inferior da coluna) à pelve e é responsável por cerca de 15-30% dos casos de dor lombar baixa, sendo frequentemente subdiagnosticada. Esta articulação pode ser afetada por alterações biomecânicas, traumas, processos inflamatórios, artrite ou alterações hormonais, especialmente durante a gravidez.
Como identificar a dor de origem sacroilíaca:
- Dor na região glútea inferior ou na parte posterior do quadril, geralmente unilateral
- Possível irradiação para a virilha, região lateral da coxa ou parte posterior da perna (sem ultrapassar o joelho)
- Desconforto característico ao ficar sentado de um lado só ou ao cruzar as pernas
- Dor que tipicamente piora ao subir escadas, sair do carro ou durante a transição da posição sentada para em pé
- Resultados positivos em testes provocativos específicos como o teste de Patrick (FABER), manobras de compressão, distração e cisalhamento, e o teste de Gaenslen
Estratégias terapêuticas para dor sacroilíaca:
- Abordagem conservadora: Fisioterapia específica para estabilização pélvica, exercícios de fortalecimento da musculatura glútea e reeducação dos padrões de movimento
- Intervenção diagnóstica e terapêutica: Bloqueio diagnóstico da articulação sacroilíaca com anestésico local, seguido de bloqueio terapêutico com corticosteroides para redução da inflamação
- Técnicas de neuroablação: Radiofrequência convencional ou pulsada dos ramos laterais que inervam a articulação sacroilíaca para alívio prolongado da dor
- Dispositivos de suporte: Cintas pélvicas específicas para estabilização temporária da articulação, especialmente úteis em casos agudos ou durante a gestação
- Procedimentos avançados: Em casos refratários cuidadosamente selecionados, a fixação percutânea ou fusão minimamente invasiva da articulação SI pode ser considerada
3. Artrose Facetária: Desgaste das Articulações da Coluna
A artrose nas articulações facetárias (zigapofisárias) da coluna vertebral é um processo degenerativo extremamente comum em pessoas acima de 50 anos, similar à osteoartrite que afeta outras articulações do corpo. As facetas são pequenas articulações localizadas na parte posterior da coluna que permitem movimento entre as vértebras, sendo ricamente inervadas e potenciais fontes de dor quando degeneradas.
Características clínicas da dor facetária:
- Dor lombar que piora significativamente com a extensão da coluna (inclinar-se para trás)
- Rigidez matinal que melhora após movimentação
- Desconforto característico ao levantar-se de uma posição sentada ou após períodos de inatividade
- Dor que frequentemente é mais intensa de um lado e pode apresentar irradiação para a região glútea ou posterior da coxa
- Limitação de movimento, principalmente na extensão e rotação da coluna
Abordagens terapêuticas para artrose facetária:
- Conservador: Programa estruturado de exercícios específicos, hidroterapia em piscina aquecida, terapia manual e adequação ergonômica no ambiente doméstico e de trabalho
- Farmacológico: Anti-inflamatórios em períodos curtos, analgésicos e relaxantes musculares para controle de espasmos secundários
- Procedimentos intervencionistas: Bloqueio facetário diagnóstico com anestésico local, seguido de bloqueio facetário terapêutico com corticosteróides, ou denervação por radiofrequência dos ramos mediais para alívio prolongado da dor em casos confirmados
- Terapias integrativas: Acupuntura, estimulação elétrica transcutânea e outras terapias complementares que podem potencializar os resultados do tratamento convencional
- Abordagem cognitivo-comportamental: Estratégias para gerenciamento da dor crônica, modificação de crenças limitantes e desenvolvimento de habilidades de enfrentamento
4. Lombalgia Muscular e Ligamentar: Dores Mecânicas Comuns
Lesões musculares, tendinosas e ligamentares são causas extremamente comuns de dor lombar aguda e subaguda, frequentemente relacionadas a esforço físico excessivo, posturas inadequadas mantidas por longos períodos, movimentos bruscos ou desequilíbrios biomecânicos. Este tipo de dor representa cerca de 70% dos casos de dor lombar aguda. Felizmente, costuma ser uma dor autolimitada.
Como reconhecer a dor muscular e ligamentar:
- Dor localizada que aumenta claramente com certos movimentos ou atividades específicas
- Presença de espasmos musculares palpáveis e pontos-gatilho dolorosos
- Limitação significativa da amplitude de movimento em direções específicas
- Padrão de melhora com repouso e piora com atividade física
- Início frequentemente associado a um evento específico, como levantamento de peso ou movimento brusco
Estratégias eficazes para lombalgia muscular e ligamentar:
- Manejo inicial: Repouso ativo (manter atividades leves sem sobrecarregar a região), aplicação de compressas frias nas primeiras 48 horas para reduzir inflamação, seguidas de termoterapia com calor local
- Abordagem farmacológica: Anti-inflamatórios não esteroidais e relaxantes musculares por período limitado para controle da dor aguda e redução do espasmo
- Reabilitação física: Programa progressivo de fisioterapia com ênfase em alongamentos específicos, técnicas de liberação miofascial, estabilização do core e correção de assimetrias posturais
- Intervenções terapêuticas: Infiltrações em pontos-gatilho, dry needling e liberação miofascial instrumental em casos específicos
- Estratégias preventivas: Educação sobre ergonomia no trabalho e atividades diárias, técnicas corretas para levantamento de peso, fortalecimento muscular progressivo e alongamentos regulares
A natureza autolimitada e o risco de cronificação:
- Resolução espontânea: Na maioria dos casos, a lombalgia muscular e ligamentar é autolimitada, resolvendo-se em 2-6 semanas com medidas básicas de cuidado, independentemente do tratamento específico
- Bandeiras amarelas para cronificação: Fatores psicossociais como catastrofização da dor, crenças negativas sobre a dor, medo-evitação de movimento, ansiedade, depressão, estresse, traumas prévios e baixa satisfação no trabalho aumentam significativamente o risco de cronificação
- Transição para dor neuroplástica: Pesquisas recentes indicam que grande parte das dores lombares crônicas inespecíficas podem ter se iniciado como simples dores musculares ou ligamentares que, em pessoas com fatores de risco, evoluíram para uma disfunção no processamento da dor no sistema nervoso central
5. Dor Axial Crônica (Dor Lombar Não-Específica): O Papel da Sensibilização Central
A dor lombar crônica inespecífica é aquela sem causa anatômica claramente identificável. Este tipo de dor é extremamente comum, representando um desafio terapêutico significativo. A neurociência moderna demonstra que este tipo de dor frequentemente envolve sensibilização central e alterações no processamento cerebral da dor, indo muito além de um simples problema estrutural da coluna.
Características da dor lombar crônica não-específica:
- Dor persistente por mais de três meses, sem relação clara com atividades ou movimentos específicos
- Sintomas que flutuam em intensidade, muitas vezes influenciados por estresse, qualidade do sono e fatores emocionais
- Impacto significativo na qualidade de vida, humor e funcionalidade
- Frequente coexistência com outros sintomas como fadiga, distúrbios do sono, dificuldade de concentração e alterações de humor
- Ausência de alterações anatômicas significativas em exames de imagem que justifiquem completamente os sintomas
Abordagens terapêuticas modernas baseadas na neurociência:
- Educação em neurociência da dor: Explicações claras e acessíveis sobre como o cérebro processa a dor e como fatores cognitivos, emocionais e sociais influenciam a experiência dolorosa
- Procedimentos intervencionistas da dor: Embora a lombalgia crônica inespecífica seja primariamente uma dor com importante componente de sensibilização do sistema nervoso central, os procedimentos intervencionistas têm um papel relevante no seu manejo, não como medida paliativa, mas sim como facilitadores do processo de reabilitação e reprogramação neural.
- Terapia cognitivo-comportamental para dor: Identificação e modificação de crenças limitantes sobre a dor, desenvolvimento de estratégias ativas de enfrentamento e redução gradual de comportamentos de evitação
- Técnicas de neuromodulação: Estimulação elétrica transcutânea (TENS), estimulação magnética transcraniana repetitiva ou, em casos cuidadosamente selecionados, implante de dispositivos de neuroestimulação como estimuladores medulares
- Exercício terapêutico gradual: Programas personalizados de exposição gradual ao movimento e atividade física, com foco na funcionalidade e não na dor
- Abordagem biopsicossocial integrada: Combinando exercício físico regular, técnicas de manejo do estresse, higiene do sono, suporte social e, quando necessário, abordagem nutricional
Quando Procurar um Especialista em Coluna Vertebral?
É fundamental buscar avaliação médica especializada se você apresenta:
- Dor que persiste por mais de duas semanas apesar de medidas básicas como repouso e analgésicos comuns
- Dor intensa que impede atividades diárias normais
- Dor associada a formigamento, dormência ou fraqueza nos membros
- Dor que piora progressivamente com o tempo
- Dor lombar associada a sintomas como febre, perda de peso inexplicada ou alterações intestinais/urinárias
- História recente de trauma ou queda
Conclusão: Uma Abordagem Moderna e Personalizada
A dor na coluna vertebral é uma condição complexa e multifacetada que frequentemente requer uma abordagem personalizada e multidimensional. Na minha prática como neurocirurgião especialista em dor e problemas da coluna, utilizo o conhecimento da neurociência moderna para oferecer tratamentos que consideram não apenas os aspectos físicos e estruturais, mas também os componentes emocionais, cognitivos e sociais da dor.
É importante entender que cada pessoa experimenta a dor de maneira única, e o tratamento deve ser individualizado. A abordagem terapêutica ideal geralmente combina diferentes modalidades de tratamento, adaptadas às necessidades específicas de cada paciente.
Com os avanços da medicina moderna e nossa compreensão cada vez mais profunda dos mecanismos da dor, a grande maioria dos pacientes com dor na coluna pode obter alívio significativo e melhora da qualidade de vida, mesmo em casos complexos. A chave está em um diagnóstico preciso, uma abordagem integrativa e um plano de tratamento personalizado.
Se você sofre com dor na coluna, não hesite em buscar avaliação especializada. O caminho para uma vida com menos dor e mais funcionalidade começa com um diagnóstico correto e uma estratégia terapêutica adequada.
Dr. Carlos Romeu é neurocirurgião especializado em dor e coluna vertebral, com expertise em procedimentos minimamente invasivos e abordagem integrativa da dor. Com experiência clínica no tratamento de diversas condições da coluna,dedicando-se a proporcionar alívio e melhora da qua lidade de vida utilizando as técnicas mais modernas baseadas em evidências científicas. Realiza atendimento presencial em Salvador, e na modalidade de Teleconsulta por vídeo chamada.