O cérebro contém bilhões de neurônios (células nervosas) que criam e recebem impulsos elétricos. Tais impulsos permitem que os neurônios se comuniquem entre si. Durante uma crise epiléptica existe uma atividade anormal e excessiva no cérebro, isso pode causar mudanças na percepção, comportamento, e/ou movimentos anormais. Essa atividade anormal geralmente tem uma duração curta de segundos a poucos minutos.
A epilepsia é uma condição em que a pessoa tem um risco de crises epilépticas recorrentes. Nem todos que tem uma crise tem epilepsia, e essas crises podem ser causadas também por hipoglicemia, distúrbios metabólicos, ansiedade, entre outros.
O que é epilepsia refratária?
O tratamento farmacológico da epilepsia funciona bem para a maioria dos pacientes. Porém, cerca de 30% dos pacientes com epilepsia continuam a ter crises mesmo após serem tentadas diferentes medicações. Esses pacientes podem ter então uma epilepsia refratária. A epilepsia refratária pode ter grande impacto negativo na qualidade de vida dos pacientes, com aumento no absenteísmo, depressão, isolamento social, risco de suicídio, além de declínio cognitivo progressivo e casos de morte súbita inesperada em epilepsia (SUDEP).
Quais exames são necessários para o diagnóstico de epilepsia?
O exame clínico e avaliação do tipo de crise é o parâmetro mais importante no diagnóstico das epilepsias. Pacientes com epilepsia refratária devem ter o diagnóstico confirmado através de um exame de vídeo-eletroencefalograma, onde o paciente é monitorado por vídeo durante internação curta, e um registro eletroencefalográfico é realizado concomitantemente.
A ressonância magnética é necessária para se detectar alterações estruturais que podem ser a causa das crises. Em casos de dúvida, exames mais avançados como a tomografia por emissão de pósitrons (PET) e a tomografia por emissão de fóton único (SPECT) cerebral podem ser solicitados.
Opções terapêuticas e tratamento cirurgico para epilepsia:
Para pacientes com epilepsia refratária o tratamento cirúrgico pode ser uma opção muito superior ao tratamento medicamentoso, e devem então ser avaliados por uma equipe multidisciplinar composta por neurologista, neuropsicólogo e neurocirurgião para esta definição. A seguir são elencados os procedimento mais comuns no tratamento da epilepsia refratária ou de difícil controle:
Lobectomia ou lesionectomia: Tal tratamento consiste em remover uma pequena porção do cérebro responsável pela geração das crises. É o tratamento mais eficaz para as epilepsias focais causadas por lesões encefálicas.
Calosotomia: É realizada uma lesão cirúrgica nas fibras nervosas que conectam os hemisférios cerebrais, com o intuito de evitar a propagação da crise para todo o cérebro.
Implante de estimulador de nervo vago: Consiste no implante de um eletrodo para estimulação do nervo vago na região cervical. Este eletrodo manda impulsos elétricos para o nervo vago e, por motivos ainda não muito bem compreendidos, pode levar a uma diminuição importante na frequência das crises.
Estimulação do córtex cerebral: É realizado o implante de um eletrodo para estímulo da área epileptogênica cerebral que não pode ser removida cirurgicamente, seja pelo perfil ruim do paciente para uma cirurgia ou por se tratar de área eloquente cerebral, ou seja, sua remoção poderá levar a déficit neurológico grave para o paciente.
O tipo mais frequente de epilepsia refratária no adulto é a epilepsia do lobo temporal por esclerose hipocampo.
O hipocampo é uma estrutura cerebral primitiva e muito envolvido no processamento da memória. Nos casos de esclerose, o hipocampo se torna atrofiado e pode ser extremamente epileptogênico. A cirurgia de lobectomia temporal nestes casos tem resultados extremamente positivos, com controle total de crises em até 90% dos casos.
O acompanhamento com neurologista é importante para o diagnóstico e tratamento correto da epilepsia, o encaminhamento para avaliação com um neurologista especialista em epilepsia é importante nos casos de difícil controle das crises. Uma avaliação com um neurocirurgião deve ser feita nos casos refratários ou de difícil controle, e que podem se beneficiar do tratamento cirúrgico.
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